Meu destino desfocado

Meu destino desfocado
América Latina

quarta-feira, 2 de março de 2011

ufa!


Dia 7
Valizas
Estado: Garganta 99%, bem disposta e em paz.

[Suspiro longo e demorado]

Bom... Começo o relato de hoje citando um verso de uma música que gosto muito (Pasmem: não é samba).

“Tolice é viver a vida assim, sem aventuras”.

São 9 da noite e estou de banho tomado, quentinha, limpa e incrivelmente em paz. Parece que tudo no mundo está no lugar.

Ontem deitei por volta das 10 da noite para acordar cedo hoje pra ir ao Cabo. Eram 3 e meia da manhã quando acordei, sozinha no quarto, na parte de cima do beliche (uma mudança imporantíssima na vida de quem jamais antes dormira na parte de cima). Sentia muita sede e vontade de ir ao banheiro, mas não tinha água e a preguiça de sair debaixo das cobertas e ir até a parte externa do hostel para usar o banheiro quase me paralisou. Quase.
Levantei para ir ao banheiro, e aquela hora havia apenas uma música ambiente (antes deve ter rolado uma festinha, porque quando fui me deitar tinha música e um pessoal bebendo).  Pedi um copo de água ao rapaz que trabalha aqui e fiquei na varanda, bebendo aquela água, olhando para o quintal. Demorei-me um pouco naquele copo, meu sono indo embora. De repente, com toda a espontaneidade do mundo, caminhei até o meio do quintal, onde havia dois rapazes sentados, e disse:

“Bah, guris! Mentira que vocês estão no mesmo hostel que eu”

Lá estavam dois dos três biólogos bicicleteros gaúchos, batendo papo e bebendo. Eles custaram a acreditar que nos encontramos assim, por acaso, e um deles lembrou de ter me visto dentro do ônibus, ao saírem de Santa Tereza.
Ficamos conversando, eu e os dois (o terceiro, F., já dormia), e eles falaram dos lugares onde haviam estado até agora, e E. discorreu sobre a teoria de Gaia. Antes de me explicar do que se tratava, me perguntou se eu estava familiarizada com os termos “viajar na maionese” e “pirar na batatinha”. Eu lhe respondi dizendo que sim, e que geralmente sou acusada de fazê-los. Não vou me extender aqui sobre tal teoria. Só achei relevante comentar porque à medida que ele falava sobre, me pareceu muito óbvio, como se fosse a teorização do que eu acredito.

Fui dormir mais tarde e acabei não conseguindo acordar na hora prevista. De qualquer maneira, acordei, tomei meu café e fui em direção à praia de Valizas, de onde há dunas que levam a Cabo Polônio. No caminho, não sei como, encontrei o rancho da Bea, onde ainda estava S.. Entrei, conversamos um pouco e B. me deu um mapa de um caminho mais curto, de 1:30 h, a Cabo Polonio, sem ter que ir pelo meio das dunas
Segui sem mapa até certo ponto, mas depois de uma hora e meia caminhando e sem ter sinal do Cabo ou do Farol, comecei a ter a sensação de que estava perdida. Vi-me rodeada de nada apenas de areia. O único som que ouvia era do vento e do barulho da folhagem rasteira em que pisava.
Depois de duas horas vi uma duna grande, e no topo dela, duas pessoas. Não tive dúvida: É pra lá!
Subi duna acima, exercitando minhas coxas há muito adormecidas, e ao chegar no topo, imaginando o mar e o Cabo, tudo o que vi foi mais areia.
Houve um momento de frustração, confesso, mas ao virar meu corpo, vi, láááá longe, o farol do Cabo. Esse láááá significava no mínimo mais uma hora de caminhada na areia, no sol da uma, mas eu não estava nem aí. Ao menos agora eu via meu destino!
Foi então o momento de colocar meu Ipod e ir ouvindo música. Passei por vaquinhas, por mato, por muita areia e cheguei à praia.
A praia não tinha nada além de areia e mar, e ainda estava bem longe do Cabo, mas fui andando, curtindo uma conveniente Bossa Nova.  Por duas horas, no entanto, fiquei com apenas a minha companhia, e cheguei à feliz conclusão de que sou uma ótima companhia a mim mesma. Gosto de mim, sei me fazer bem, e cada vez mais o amor que é saudável que eu sinta por mim está crescendo.
Depois de mais de 3 horas (saí às 11:11 (!) e cheguei às 14:48), sem água (havia comprado 2 litros de água, que esqueci no rancho), cheguei a um vilarejo gracioso.
Cabo Polonio é bem rústico, não tem acesso de caro, não tem energia elétrica (apenas solar), e é o maior destino de lobos marinhos da América do Sul. Eles vêm aqui para procriar, e aqui ficam os bebês durante 8 meses.
No meu caminho pela praia pude ver alguns lobos marinhos mortos na areia, e também um golfinho.
Cheguei e fui logo procurar um lugar onde eu pudesse comprar água. Comprei uma água e uma coca, e fui andar mais. Andei pela praia norte, passei pelo farol, que é aberto à visitação (mas eu não subi), e pude ver três lobos marinhos. Nessa época do ano eles já não estão aqui.
Fui andando em meio aos ranchos até a praia Sul, onde havia vários banhistas. Pela primeira vez em muito tempo entrei no mar, que tem a água um pouco mais gelada que a nossa.
Não me demorei muito na praia porque queria vir logo pro hostel. Estava cansada e queria tomar banho antes que escurecesse e começasse a ventar muito.
Para sair de Cabo Polônio é necessário que se pegue um caminhão que vai pelo Parque Cabo Polonio até a estrada, de onde, então, se pega ônibus.
Ao pegar o caminhão o motorista me disse que às 16:40 haveria um ônibus para Valizas. Cheguei no ponto às 16:30 e só saí de lá as 19:00, quando um grupo de 3 amigos brasileiros, 3 das 20 pessoas que estavam desesperadas para pegar o bendito ônibus, pediu carona para um senhor com uma carreta. O senhor parou, os 3 amigos subiram, depois uma uruguaia  foi pedir pra ir também, e ele deixou, aí foram mais umas 5 pessoas na caçamba do velho.
Infelizmente ele não foi até Valizas, mas até perto da entrada para Barra de Valizas, de onde, até meu hostel, tive que caminhar mais uma hora.
Por sorte os brasileiros, Juliana, Paula e Henrique, eram muito bem humorados, e viemos o caminho todo cantando, conversando, enfim, fazendo daquela epopéia algo agradável.
As uruguaias que também estavam na caçamba posteriormente conseguiram uma carona num picape. Quando estávamos a uns 10 minutos da rodoviária de Valizas, elas passaram vindo na direção contrária, em seu próprio carro, oferecendo levar-nos até onde precisássemos ir.
Agradecemos muito e recusamos (elas estavam em 3, e nós em 4, e já estávamos chegando).
Assim foi meu dia

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