Dia 18
Montevidéu
O domingo amanheceu bem domingoso. A temperatura continuava mais baixa que de costume, o céu queria chover e eu não queria sair da cama. Acordei as 11 da manhã com uma mosca zunindo ousadamente no meu ouvido, e depois não consegui mais dormir. Pablo ainda dormia e eu resolvi ficar deitadinha até que ele acordasse e viesse à sala (pretexto pra não levantar?). Pelo facebook falei com Sofia, a uruguaia que conheci em Valizas, que propôs que nos encontrássemos. Ela e Bea (a artesã) tinham combinado de ir à mesma feira de domingo onde eu estava pensando em ir, e marcamos de ir junta. Acontece que fui lavar roupa e fiquei esperando acabar de bater para pendurar, e cheguei quando a feira já estava terminando. Não vi muita coisa. Passei numa livraria para comprar um livro em castellano e dei de cara com um alemão que conheci no encontro do couchsurfing (lembra-se daquele meu já citado magnetismo?), que buscava um livro em alemão. Não encontrei nada que me interessasse, então fomos, eu e as meninas, até o Parque Rodó, que é bem perto de casa.
Lá também havia uma feira, que também já tinha acabado, então fomos comer por ali. Sofia é vegana (não come nada de origem animal) e enquanto eu e Bea pedimos qualquer coisa com queijo ou leite, ela quase morria de fome, até que encontramos um restaurante meia-boca que cobrava 65 pesos por um pedaço de pascoalina (tipo de torta recheada de acelga e espinafre), o que ela pediu, acompanhada por uma porção de fritas.
Isso me fez pensar que ser vegana pode ser a maior furada. Não sei bem os motivos pra deixar de comer TUDO que seja de origem animal, não julgo nem nada, apenas constato: não é nada prático.
Eu agora estou considerando seriamente parar de comer carne. Se eu mudar alguma coisa, viro vegetariana, mas vegana, por enquanto, é muito difícil, principalmente itinerante como sou.
Cheguei em casa no fim da tarde e dei uma cochilada até que Pablo voltasse. Efuka e Andreé também tinham saído, então fiquei deitadinha no meu sofá laranja. Quando Pablo chegou ficamos conversando e ouvindo música na sala, depois os dois escrevendo, enrolando enormemente pra sair de casa. Havíamos combinado de irmos a uma comparsa, que pelo que entendi é tipo um grupo de tambores na rua, que sai como um bloco, andando pelo bairro. O friozinho deu preguiça em nós dois e também nas colombianas que iam conosco e desistiram. Depois de aquele papo de “se você quiser ir eu vou”, resolvemos, eu e Pablo, ir.
Andamos duas quadras, começou a chover e voltamos. Não vi nem sinal de tambores (quanto chove não tem).
Aquele domingo estava pedindo coberta. Sugeri, então que assistíssemos a um filme. Ele disse que tinha uma locadora por perto, mas eu tinha baixado Le Concert, um filme franco-russo que minha maridinha me tinha indicado, mas que eu ainda não tinha assistido. Foi o filme perfeito.
Pablo, eu e Andrée |
Assistimos ao filme, que é altamente recomendável, tem um humor sofisticado e é emocionante.
Andrée viu uma parte conosco, mas depois foi trabalhar em seu laptop (é jornalista) e acabar de preparar a janta.
Depois de terminado o filme, jantamos os quatro (eu, Pablo, Andrée e Efuka) um macarrão que devia estar delicioso. O clima do jantar, no entanto, não era dos melhores. Andrée recebia chamadas pelo skype a toda hora, da França, com atualizações sobre a situação no Japão. Como era de se esperar, o assunto de terremoto, tsunami e energia nuclear não é do mais leves. O silêncio de preocupação com o futuro da humanidade rondava a mesa de jantar e ao invés de sentir o sabor do macarrão que cheirava muito bem, engoli a comida pensando no sofrimento daquelas pessoas, que é nosso também.
Aquela noite tinha que me despedir de Pablito e não soube colocar em palavras o quão significante foi minha estadia ali.
Ser tão bem recebida e bem tratada por aquelas pessoas resultou na confirmação de que eu vivo num mundo que as pessoas pensam que não existe.
Imensamente grata
Nenhum comentário:
Postar um comentário