Meu destino desfocado

Meu destino desfocado
América Latina

domingo, 27 de março de 2011

Aprendendo a ouvir o vento


Dia 28
Segunda- feira

Há algumas semanas tenho ocupado meu tempo pensando na Patagônia: Ir ou não ir, esperar meus pais ou não, arranjar companhia ou não...
Segunda acordei preguiçosa. Pra variar, não tinha planejado meu dia, e resolvi ocupar as primeiras horas dele lendo sobre a Patagônia e tomei coragem de postar no grupo de Buenos Aires uma mensagem procurando companhia para viajar, já  que meus pais confirmaram que agora não seria possível para eles.
Seu eu acreditasse em coincidência ela seria uma boa justificativa para o que aconteceu nesse dia.
Não sei como fui para no grupo da Argentina (eu só era membro do grupo de Buenos Aires), e lendo os  posts no fórum fui dar com a mensagem de um tal francês que dizia que iria ao  sul “de dedos” e buscava companhia. Acontece que o fulano tinha postado havia 5 dias e dizia que ia sair de Buenos Aires no domingo ou na segunda. Era segunda, 1 da tarde e me deu um siricotico.
Fiquei naquele mandonãomando mensagem  por uns dois minutos, mas como tenho um certo treino mental resolvi mandar logo e acabar com a minha dúvida. Lhe escrevi explicando que estava também na capital e estava a procura de companhia pra descer,e  que topava pegar carona.
Por sorte dali meia hora me respondeu dizendo que ainda estava em Buenos Aires e que sairia de lá as 19:45, de trem, até Bahia  Blanca.
Eu tinha que comprar sapato de trekking e me apressei. Fui até a Estación Once, e andei pelas ruas onde o comércio é mais barato. Depois de mais de uma hora procurando, encontrei bons sapatos, paguei e fui pra casa acabar de arrumar a mala.
Mathieu (esse é o nome do francês) propôs que nos encontrássemos em seu hostel no centro de Bs As uma hora antes de pegarmos o trem. Tive que contar com a sorte: se o cara fosse um francês folgado e fedido eu já estaria comprometida a viajar pelo menos até Bahia Blanca com ele.
Eu sou uma pessoa de sorte.
Mathieu 

Quando cheguei no albergue ele me esperava todo sorridente. Muy buena onda, de cara nos demos bem (também, ele tinha um violão), e pegamos o metrô até a estação de trem.
O trem pra Bahia Blanca custava 55 pesos na primeira classe (que eram as únicas passagens que restavam).
Infelizmente o trem é uma porcaria.  Os bancos estavam soltos, janelas com vidros rachados, não tinha água nos banheiros e deixava um pouco a desejar na limpeza. Seriam 14 longas horas de viagem.
Eu e Mathieu conversamos as primeiras horas da viagem, até cairmos no sono. A “primeira classe”não estava cheia, assim que quando fomos dormir, Mathieu foi pra outras poltronas, e pudemos deitar, o que tornou a viagem um pouco mais confortável.
Mas não por muito tempo.
Fazia um frio muito grade à noite, então me levantei para pegar meu saco de dormir. Quando acordei reparei que o trem estava parado (ele já estivera parado antes em outros pontos, sem mais nem menos). Reparei uma movimentação da parte dos funcionários da empresa, e passageiros resmungando.
Devemos ter ficado parados por mais de uma hora, e quando o trem voltou a andar, andou pra trás. Isso mesmo. Voltamos não sei quanto quilômetros porque o trem simplesmente não avançaria.
Eu vi um casal de idosos na minha frente tirando as coisas do maleiro e perguntei o que estava acontecendo. Eles disseram que teríamos que descer do trem e seguir dali em ônibus. Nenhum funcionário falou nada diretamente, o pessoal só ia se tocando e descia, como eu fiz.
Olhei ao meu redor e só havíamos eu, Mathieu, e dois meninos gringos. Eles acordaram e lhes informei que teríamos que descer.  Nos apressamos e depois de alguma espera e muitos ônibus consegui que colocássemos nós 4 no mesmo ônibus (os dois meninos, holandeses, não falavam nada de espanhol e também não compreendiam muito bem).
Fomos, então, das 6 da manhã até as 10 num ônibus apertado, sem banheiro e conduzido por um motorista de mau gosto musical até chegarmos em Bahia Blanca.

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