Meu destino desfocado

Meu destino desfocado
América Latina

domingo, 27 de março de 2011

Hacendo dedos


Durante o caminho conversamos com os holandeses e descobrimos que iríamos fazer o mesmo trajeto até Ushuaia. De Bahia Blanca eles também iriam pegar carona até Puerto Madryn, de onde iriam  à Península Valdes, e de lá continuariam descendo. Assim, fomos os quatro tomar café e depois pegamos um ônibus que nos deixou num posto de caminhoneiros, onde nos haviam informado que era o melhor lugar para pedir carona para o sul, pela Ruta Nacional 3.
Mathieu, Johannel e Ger

Obviamente não pegaríamos carona os 4 juntos, então nos  posicionamos em duas duplas, com alguma  distância entre as duas.
Quando chegamos em frente à Estación de Servicio El Choclo (onde haviam indicado que era melhor esperar), havia dois rapazes hacendo dedos, o que nos fez ter que nos posicionar um pouco depois, pra não furar o olho de quem já estava lá.
Um deles conseguiu uma carona assim que chegamos, e o outro, depois de um tempo, entrou na conveniência, o que foi nossa deixa pra pegar o lugar dele.
Eu nunca peguei carona assim na minha vida. Eu já pegara carona com desconhecidos na Alemanha, mas era tudo arranjado pelo site, então literalmente esperar na beira da estrada foi (ou tem sido) uma experiência completamente nova para mim.
Sei que no Brasil isso é impensável (pelo menos por enquanto), e eu nunca faria isso sozinha, mas como estava acompanhada de um rapaz e segundo meu guia e as pessoas que consultei aqui no sul da Argentina isso é muito comum, resolvi tentar.
Eu não podia ter tido uma melhor primeira carona.
Depois de pouco mais de uma hora esperando um corsa branco parou do nosso lado e uma loura simpática nos perguntou aonde iríamos. Respondemos que ao sul, mais precisamente a Puerto Madryn, e então ela e seu marido (há dois dias)  ajeitaram o portamala e o interior do carro para cabermos. Quando entramos no carro vimos que os meninos holandeses (já tinha comentado que eram dois meninos, de 18 e 20 anos?) conseguiram um caminhão na mesmíssima hora que conseguimos o carro.
Casais em lua de mel são bem humorados, aparentemente (também, se não fossem agora, em que momento do casamento seriam?). Viajamos com eles de Bahia Blanca até Las Grutas, e durante todo o caminho conversamos, nos conhecemos, compartilhamos informações sobre a vida nos três países, cantamos e até aprendemos francês (eu e o casal, obviamente).
Juan e Natalia- nossa primeira carona

eu e Mathieu

Não fomos todo o tempo pela Ruta 3, como planejado, pois o casal se perdeu. De qualquer maneira, andamos 532 quilômetros  com o casal, e descemos num posto de gasolina para tentar pegar outra carona, já  que eles ficariam em Las Grutas e nós seguiríamos.
Você já deve ter ouvido que taxista argentino é fdp, e certamente se já veio à Argentina pôde comprovar na pele. Bem, eu comprovei.
Quando o casal nos deixou no posto havia um taxista parado ao nosso lado. Assim, o casal lhes disse que estávamos pegando carona e que queríamos ficar num posto onde passassem caminhões que seguiriam ao sul, e perguntaram se era longe. O taxista pelotudo disse que era a uns 15 quilometros, e que iria nos sair 20 pesos. Fomos, não andamos nem 5 minutos e nós, idiotas, pagamos 20 pesos.
No posto pedimos carona a alguns caminhoneiros parados. Um disse que estava viajando junto a outro caminhoneiro, e que não cabíamos nós dois em um só caminhão, então eu teria que ir em um e Mathieu em outro. Pela cara dos dois vimos que era furada e que deviam ser uns pervertidos, então recusamos. Um outro, enquanto Mathieu foi ao banheiro, me perguntou aonde eu iria, disse que me levava, e quando eu disse que viajava acompanhada falou que ia comprar cigarros e nunca mais voltou.
Eram umas 9 da noite quando saímos do posto e resolvemos parar de perguntar a pervertidos e contar com a sorte. Ela não tardou a vir, e um  caminhoneiro porto-riquenho de nome Henrique nos levou pelos seiscentos e tantos quilómetros seguintes até um posto a alguns quilômetros de Puerto Madryn. O posto era 24 horas e quentinho, e resolvemos acampar por lá, já que, segundo Henrique, caminhar  até Madryn estava fora de cogitação, especialmente àquela hora. Chegamos ao posto, pedimos algo pra comer e 15 minutos depois... chegam os holandeses! Não tínhamos nos falado desde que nos separamos, e foi uma feliz coincidência termos nos encontrado naquele posto, principalmente porque íamos acampar no campo atrás do posto, e me senti mais segura estando em maior quantidade (e também porque um dos holandeses, o de 18 anos, tem quase 2 metros de altura).
Tivemos uma noite sem nenhuma emoção, mas com muuuuuito frio. 
Estávamos em duas carpas (eu e Mathieu em uma e os meninos em outra), mas a nossa barraca não nos protegeu do vento, então às 6 da manhã acordei tremendo de frio e não consegui mais dormir. Mathieu também acordara, e nenhum dos dois estava preparado praquele frio. Eu colocava o cachecol na minha cara pra proteger meu rosto do vento que entrava pelo chao, mas aí focava o frio nos pés e no joelho.
Foi uma noite bem fria, mas o nascer do sol fez valer a pena.

Ah, e não estou doente. :)







Nenhum comentário:

Postar um comentário