Saímos da Península Valdes às 7 da manhã e fui dirigindo até Puerto Madryn (estrada tranquilissima, diga-se de passagem). Devolvemos o carro ao rental shop e presenciei uma cena muito feia.
Na nossa primeira noite na Península, depois de vermos o pôr do sol voltávamos a Puerto Pirâmide (a única vila residencial/comercial da península, onde procuraríamos um albergue), e o pneu do carro furou. Por sorte as pessoas que estavam comigo eram tão tranqüilas quanto eu. Ger, o motorista, tomou controle da situação e trocou o pneu. Fazia frio e vento e tivemos que esperar fora do carro, sem uma alma viva ao redor, mas tínhamos tudo que precisávamos.
Depois dos primeiros momentos tentei controlar os “fuck” do francês falando que estava tudo bem, que tínhamos step e ferramentas, lanternas, sacos de dormir e comida no carro. Então olhei pro céu e todas aquelas estrelas no céu sob o deserto, silêncio total, nos fizeram sentir-nos bem.
Depois de trocar o step outras surpresa: a bateria descarregara. Não saíamos do lugar, o carro não pegava nem empurrando e o jeito foi esperar. Assim, como se as estrelas pedissem para ser admiradas, tirei meu saco de dormir e me deitei na estrada, em frente ao carro, e fiquei olhando as constelações, que Ger conhecia, até que o carro esfriasse e pudéssemos (ou melhor, os meninos pudessem) ver qual era o problema com o carro. Nada mais que meia hora parados no meio do nada olhando as estrelas. Depois disso o carro pegou e voltamos a Porto Pirâmides.
De volta a Puerto Madryn, devolvemos o carro e mostramos o pneu furado ao rapaz do rental shop. O pneu não só furou, estava destruído, o que nos fez pensar que não era de boa qualidade.
O rapaz, quando lhe mostrei o pneu, me disse que estava daquele jeito porque furou e continuamos andando com ele em estrada de terra (o que foi verdade, pois demorou um tempo para percebermos que estava furado). Quando fomos acertar as contas, Mathieu lhe contestou (educadamente), dizendo que o pneu parecia não ser apropriado pra estrada de terra. O cara deu piti e foi super grosseiro com ele, dizendo pra ele calar a boca, que não ia discutir, que era pra pagar e pronto.
Foi super feio, e infelizmente já tinham me avisado que acontece de alguns argentinos serem muito mal educados. Esse, o que tinha de gato, tinha de estúpido.
De qualquer maneira, pagamos 350 pesos pelo pneu, que não estava no seguro, e pronto.
Fomos tomar café e procurar luvas e gorro. Depois das compras, pegamos um taxi de volta ao posto onde dormimos e de lá nos separamos para voltar a pegar carona, agora a rio Gallego,Rio Grande ou Ushuaia, esta, nossa cidade de destino.
Depois de menos de uma hora hacendo dedos, parou um caminhão que perguntou aonde íamos. Daniel, motorista do caminhão, nos levantou e durante as 24 horas seguintes viajamos com ele.
Daniel é um rapaz de seus 35 anos, pai de família e super bonzinho. Disse que costuma dar carona porque é uma distração pra ele, e assim pode ter contato com gente de todo o mundo. Conversamos muito durante toda a viagem, e à 1 da manhã paramos para dormir. Eu e Mathieu estávamos dispostos (embora não preparados) para dormi na barraca, mas ele insistiu que dormíssemos no caminhão e em menos de 5 minutos o caminhou virou duas camas (ele tinha dois colchões. Em um dormimos eu e Mathieu e em outro, ele). Dormimos até as 5 a manhã, tomamos café no caminhão mesmo (ele tem bujão de gás e fogão portátil, então deu pra aquecer água para meu leite em pó), e eu dormi sozinha sentada no banco de trás durante as 6 horas que se seguiram.
Daniel nos levou até a fronteira com o Chile. Nosso destino era Ushuaia, que fica na Argentina, mas para ir por terra temos que sair da Argentina, entrar no Chile, sair do Chile e entrar na Argentina de novo. Aí que quase rodamos.
Daniel não quis nos levar porque daria muito trabalho com a papelada e a fila na imigração. Passamos pela imigração Argentina e registramos nossa saída. De lá, andamos 500 metros até a imigração chilena e registramos nossa entrada, o que demorou um tempão por conta da fila. Depois de tudo certo fomos à estrada para tentar outra carona. Eram 4 da tarde, fazia um vento horroroso e Mathieu já me pedia um plano bem. Achamos que talvez devêssemos ter ficado em Rio Gallegos, onde há estação de ônibus e poderíamos pegar um até Ushuaia. Mas como já tínhamos decidido seguir adiante, eu não gostava da idéia de voltar pra trás e sair do Chile e entrar na Argentina de novo. Fora que o pessoal da imigração iria rir da nossa cara por não termos andado nem 1 quilômetro do Chile.
Às 6 da tarde parou um Civic na nossa frente e nos perguntou aonde iríamos. José e Cristian, que vinham no Civic, iriam a Rio Grande, e nos trouxeram até a porta do hostel onde estou no momento.