Meu destino desfocado

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América Latina

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Marinheira




Já comentei há algum tempo atrás que estou aprendendo a ouvir o vento. Novamente, ele soprou a uma direção que eu não previa, e, felizmente, me deixei levar.

A história foi a seguinte: Eu tinha a passagem comprada para sair de Pucón rumo a Santiago às 21:50 da quarta feira da semana passada. 
No meu segundo dia em Pucón, em total contraste com o primeiro, passei o dia inteiro escutando o barulho da chuva. Fiz um tour meio frustrado, que só valeu a pena pela visita aos Ojos de Caburgua e às Termas San Luis, onde passei 2 horas mergulhada em águas vulcânicas de temperatura entre 35 e 40 graus. Foi ótimo tirar o mofo do meu biquini, e com o friozinho que fazia foi uma delícia, realmente relaxante.
Ojos de Caburgua

Termas San Luis



Voltei a Pucón às 14:30 da tarde e fui comer e usar a internet. Pela internet veio um sopro de vento que mudou eu rumo pra um lugar onde eu fui mais feliz.
Recebi um e-mail do meu sofá em Santiago dizendo que teve uma emergência de trabalho e que teria que viajar, o que lhe impediria de me hospedar na data prevista. (Rajada # 1).
Minutos depois li um e-mail de Mathieu, meu parceiro de viagens, dizendo que estava em Valparaíso e uqe no mesmísimo albergue estavam Vicent e Alexis, dois franceses que conheci na viagem de navio. Os dois conheceram Mathieu no sofá de Pucón. Se eu acreditasse em coincidências, diria que por causa delas essas pessoas queridas se conheceram em Pucón.
A rajada de vento # 2  foi, portanto, ter Mathieu, Alexis e Vincent no mesmo lugar, numa cidade a uma hora e meia de distância de Santiago.
Não vou esconder o fato de eu ter uma quedinha por Alexis e pensar em revê-lo, junto com meu hermanito francês (Mathieu) começou a me dar siricotico.
Me perguntei o que diabos eu faria em Santiago sozinha sendo que meus queridos estavam em Valparaíso.
Nesse momento que entrou a questão de ser marinheira do vento.
Eram 4 da tarde. A rajada de vento #3 foi o fato de o café onde eu estava usando a internet ser exatamente na frente da empresa de ônibus onde eu comprara minha passagem.
Num repente busquei na internet horários de ônibus pra Valparaíso. Por "sorte" tinha um único ônibus, às 19:50. Li na minha passagem a Santiago que era possível executar trocas da passagem contato que fosse com até 4 horas de antecedência. Eu tinha tempo. Faltava ter poltrona disponível para Valparaíso.
Atravessei a rua, e em menos de 5 minutos estava com a passagem trocada, e com uma alegria sem tamanho.
Eu não tinha a chave da casa de Carlos, e ele saía do trabalho às 19:00. Era o que eu pensava.
Às 19:00 liguei pra ele perguntando se ele já estava indo pra casa, e ele me corrigiu, dizendo que só saía às 19:30. Quase tive um treco.
Eu não podia entrar na casa dele pra pegar minha mochila nem pra tomar banho. Ele, muito solícito, se ofereceu a me buscar no café quando saísse do trabalho. Eu logo vi que não daria tempo.
 Carlos é farmacêutico e trabalha numa farmácia dentro de um supermercado, no caminho entre o centro de Pucón e sua casa. Fui mais astuta e peguei um taxi até o Supermercado, porque também queria comprar comida pras 12 horas de viagem que estavam se aproximando.
Lhe avisei que estava no supermercado, e o esperei sair do trabalho. Quando saiu, expliquei que tinha mudado minha passagem, pedi desculpas pela correria e por ter que me despedir tão rápido. Ele é o tipo de cara que faz tudo pra você se sentir em casa. Além de abrir a porta do carro pra mim (coisa que até hoje só o Norbert havia feito), foi super solícito e me levou até o terminal de ônibus.
 Despedi-me dele e entrei no lindo ônibus verde (minha cor da sorte) da Turbus, agência de onde comprara a passagem a... Santiago.
Cheguei no terminal em cima da hora. Havia um ônibus a Valparaíso com o horário de 19:50 e entrei feliz da vida. Depois que o ônibus, que não estava cheio, saiu do terminal o "comissário de bordo" perguntou o número de minha poltrona, e ao que mostrei minha passagem a ele, chamou minha atenção para o fato de eu ter uma passagem da Condor - e estar num ônibus da Turbus.
Fiz cara de caneca, pois realmente não tinha me dado conta. Foi então que lembrei que no momento da troca de passagens a atendente realmente tinha chamado minha atenção para o fato de ser de outra empresa, mas essa informação foi enterrada pela minha empolgação.
O moço me disse então que o ônibus da Condor saía de outro terminal, mas que não tinha problema, pois na cidade seguinte eu faria a troca.
Chegamos a Villarica (a cidade seguinte), e nada do ônibus da Condor, que havia saído minutos antes. Eu estava uma pilha de nervos. Não sabia se iam me deixar  na beira da estrada ou me dar sermão. No pasó nada.
Um ônibus ligou pro outro e em Temuco eu fiz a troca.
imagino a conversa:

- Hola, Condor? Hay una brasileña que se equivocó de bus.
- Pero como se equivocó?
- Yo que sé! Pero podei esperar un rato en Temuco. Así la mina puede cambiar de bus, cachai?
- Cacho.

Assim, troquei de ônibus em Temuco, pedindo mil desculpas aos funcionários de ambas companhias, que docemente me disseram:
- Tranquila. No pasa nada :0

Adoooro!

Entrei no ônibus e durante as 12 horas de viagem dormi apenas umas 3. Tá, talvez minha quedinha seja um pouco maior do que eu pensava.

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