Meu destino desfocado

Meu destino desfocado
América Latina

domingo, 17 de abril de 2011

Mala onda (não to falando de onda do mar :P)

Como de costume, a terceira madrugada passei com o pessoal no refeitório, bebendo, tocando música e conversando. Se juntou a nós um chileno que embarcou em Puerto Edén, uma vila no meio  do caminho.

Eu havia conversando com um senhor que estava indo a Puerto Edén, qeu vive aí, e ele me disse que lá vivem 120 pessooas. 120 pessoas! Um local onde só se chega de barco, não há hospital nem população jovem (pois aos 18 saem para cidades maiores). Fiquei chocada, mas o que passou posteriormente me chocou ainda mais.


Por volta das 2:30 da manhã, Paul, um inglês que estava sempre conosco, foi dormir. Um minuto depois de sair voltou porque havia esquecido sua jaqueta. Foi então que notou que sua câmera não estava em seu bolso, e que a capa estava no chão- vazia.

Uma breve recapitulação dos fatos nos levou a conclusão de que a camera havia  sido roubada, e que quem a roubara estava na nossa mesa, pois só restávamos nós ali. Éramos 9.

O navio contava com câmeras de segurança, e o chileno insistia para que falássemos com o capitão para que víssemos as gravações para achar o ladrão. Esse mesmo chileno se afetou muito com o fato e procurava por toda parte, abria a capa de sua própria câmera e mostrava que era dele, como se defendendo de algo que ninguém o estava acusando. Ao menos não verbalmente.

Paul, esse mesmo inglês, teve sua garrafa de vinho rouabada do refeitória algumas horas antes. Era uma garrafa barata, que comprara fora do navio, e por isso mesmo valia muito, pois uma garrafa no navio custava 9 mil pesos. Ele comentara o ocorrido e vimos esse chileno numa mesa próxima a nossa servindo um vinho cuja garrafa estava envolta em um saco plástico preto, e o servia debaixo da mesa.
Não podíamos acusá-lo nem do vinho nem da camera porque não tínhamos prova. Além do que, o cara se sentou na nossa mesa, fez a maior festa conosco, brindou e nos deu boas vindas ao Chile.
Mas o cara não era nada legal.
Depois de um tempo de buscas, quando já quase perdíamos a esperança de encontrar a câmera, Alexis de um repente se levantou e chegou perto do chileno, que estava de pé, procurando a câmera com os olhos.
E teve início a confusão.
Alexis se levantou e perguntou ao cara o que seria aquele volume em seu bolso traseiro. O cara disse que não era nada, e colocou o tal volume dentro de sua cueca. Alexis disse que viu que era uma camera, pois havia um furo no bolso do cara. Este, por sua vez, negou, ao que Alexis retrucou com firmeza que viu muito bem, enfiou a mão dentro da cueca do moço e tirou a câmera.
Aí a tínhamos: uma câmera digital Olympus encuecada, pertencente a Paul, que já sofria ao pensar em ter 3 meses de viagem perdidos por conta do memory card roubado.
Os meninos começaram a discutir, agarraram o ladrão pelo colarinho e perfuntaram o que estava fazendo a máquina do inglês dentro de sua cueca.  A resposta era óbvia, mas o cara, visivelmente nervoso e alterado, repetiu por minutos seguidos "no es mia, no es mia".
Que no es tuya ya sé, boludo!! Que haces con ella entonces?
Logo ficou claro que qualquer diálogo seria impossível. Ao invés disso, xingamentos, ameaças empurrões e tremores (esses, da minha parte).
Eu não conseguia controlar meu tremor. Quando a discussão começou me deu uma perto no coração, imediatamente senti uma energia carregada e muito muito negativa, e todo meu corpo tremia, minhas mãos estavam frias e eu tinha vontade de chorar.
A discussão durou algum tempo, não cairam na porrada, mas houve camisetas rasgadas.
Os franceses mandaram o cara dormir e lhe asseguraram de que no dia seguinte ele estaria encrencado, pois reportariam tudo ao capitão.
Depois de 5 minutos volta o sujeito, com outra camiseta, e chama Julien, com quem tinha se estranhado muito, para brigar fora. Foram todos, ouve uns tapas na cara de leve, muitos insultos, e ameaças da parte do "Rei de Puerto Montt", segundo quem estariam todos mortos quando desembarcassem.
Nesse momento subi à cabine do capitão e busquei o vigia noturno, expliquei a situação e ele foi tentar controlar.
Depois de alguns minutos o sujeito foi embora, voltamos para o refeitório, o vigia chamou o supervisor, explicamos tudo e o senhorzinho nos deixou tranquilos quanto a tomar uma providência quanto aquilo.

Depois de meia hora eu ainda tremia e sentia frio, o que no final das contas não foi tão ruim, pois me vi acolhida por braços franceses.

Algum tempo depois já estávamos todos conversando e fazendo piadas a respeito. A foto que segue abaixo foi tirada com a câmera de Paul, pouco após recuperada. Aí já tinha ido embora aquela vibe má, e ficamos até as 5 da manhã juntos, comendo e bebendo.



Julien, Camille, Vincent,Emily, Alexis, Paul, eu e Alex

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