Ontem fez exatamente 60 dias que saí de São Paulo, de shorts curto e debaixo de sol.
Continuo de shorts curtos, mas debaixo deles polainas grossas de perna inteira e legging. O sol não tem vencido as nuvens e a chuva há uns 3 dias, e hoje, particularmente, debaixo mesmo eu estou de três cobertores e um saco de dormir.
Saí de Castro às 10:30 da manhã de quinta e peguei um ônibus até Puerto Montt. Meu destino final era Puerto Varas (que dista apenas 15 minutos de Puerto Montt), mas ia buscar as sapatilhas de lã que encomendara com Carmen, a artesã. Também havia combinado de encontrar Armando, o cs que me hospedaria em P. Varas.
Armando não vive exatamente em Puerto Varas, mas no meio do caminho entre uma cidade e outra. Vive nos fundos de um centro de eventos (o que pra gente seria tipo um Buffet de festas), que fica no meio da estrada. Assim, não há vizinhos, e da janela de seu apartamento ele jura que tem uma vista linda de não um, mas de dois vulcões: Osorno e Calbuco. Eu, infelizmente, ainda não os vi – pois as nuvens até agora não fizeram o favor de dar uma licensinha pra eu tirar uma foto e mostrar pra vocês o lugar lindo onde estou hospedada.
O apartamento é uma graça e tem uma vibe muito boa. Armando é um argentino que começou a viajar há 3 anos e até agora não voltou pra casa. Vive aqui há 5 meses, e aqui está iniciando um projeto social chamado UNAVIDA.
Nosso encontro foi armado pelo Universo. Inicialmente eu não pedi sofá a ele. Pedi a uma garota de Puerto Varas, Natalia (que por “coincidência” hospedou meu amigo francês Mathieu há menos de uma semana), e ela me respondeu que não estaria aqui, e me sugeriu que pedisse sofá a seu amigo e parceiro de projeto, Armando. Não hesitei, mandei um pedido, ele logo aceitou, e logo ao chegar vi que alguém andou mexendo os pauzinhos para eu me hospedar em sua casa.
Se minha vida fosse um filme vocês poderiam achar que aqui se iniciaria uma linda história de amor. Mas não é nada disso – que mania de Hollywood!
Há vários motivos que me deixam contente por eu estar aqui. O principal é que ele é o tipo de pessoa que eu gosto de conhecer. Sabe aquele tipo de gente que no momento que você conhece parece que já se conhecem há muito tempo?
Ele morou 8 meses na China, fala um pouco de mandarim e é super interessado pela cultura chinesa. Além disso, também trabalha com energia, então de cara vi que íamos ter sobre o que conversar.
Também estava hospedado aqui um casal pouco convencional: uma chinesa de Hong Kong e um israelita.
Também estava hospedado aqui um casal pouco convencional: uma chinesa de Hong Kong e um israelita.
Quais são as probabilidades de, num grupo de 4 pessoas, 3 falarem mandarim?
Tá. A realidade é que nenhum dos 3 realmente FALA mandarim. Eu, muito meia boca, mas entendo alguma coisa, Armando fala mais ou menos, e para os desinformados, em Hong Kong se fala inglês e cantonês – que é muito distinto de mandarim. Mas a garota sabia mais que nós dois.
Na primeira noite que estive aqui Armando nos convidou para ir até Puerto Varas assistir a uma apresentação de flamenco com umas amigas. A chuva e o frio intensificaram meu sono e gentilmente recusei o pedido. O casal também preferiu ficar, e pudemos conversar um pouco. Se estão curiosos de saber como eles se conheceram (como eu estava, e perguntei): Em novembro, no Peru, foram hospedados pela mesma pessoa do CS. Seguiram viajando separadamente (pois tinham diferentes rotas), e vez ou outras e encontravam. Agora seguirão viajando juntos.
Na manhã seguinte acordei antes das 7 porque havia combinado de encontrar Armando, que dormira em Puerto Varas, às 8 da manhã, para vê-lo praticar Wu Shu, uma arte marcial chinesa.
Com muito custo saí da minha cama quentinha pra ir debaixo de chuva e no escuro até o ponto de ônibus. Lembram que sou uma pessoa de sorte? Em menos de 3 minutos consegui uma carona que me deixou em Puerto Varas (que está a 10 km de distância) e fui até a frente de uma Igreja, onde era nosso ponto de encontro.
Esperei uns 40 minutos e nada do Armando. Pensei em ligar, mas quando me dei conta, não tinha seu número comigo. Ao invés de ficar de mau humor por ter acordado cedo e os planos não correrem como devia, resolvi aproveitar que já não chovia e caminhar por Puerto Varas, que era mesmo meu objetivo.
Puerto Varas é conhecida como Cidade das Rosas. Vi várias, todas molhadas e algumas mortas. Talvez o outono não seja a melhor estação para conhecer a capital turística do sul do Chile.
Eu estou aprendendo muita coisa comigo. Descobri que tenho uma boa inteligência e bom controle emocinais.
A cena: Estava eu esperando Armando em frente a uma igreja graciosa. O sol nascendo, já não chovia, e à minha frente uma árvore baixa, cujas folhas traziam várias gotículas de água.
“Foto!”, pensei.
Na noite anterior havia colocado minha câmera para carregar, porque ultimamente a bateria tem descarregado muito rápido. Acordei, coloquei a bateria na máquina e a liguei, para certificar-me que estava funcionando. Estava, saí feliz e contente, mas com meu Ipod para me dar mais segurança.
Voltemos à cena: folhas com gotas d’água e luz do sol nascente. Tiro a câmera da capa, ligo-a, ouço o som do zoom saindo e... tela preta.
Não sei o que aconteceu, mas a tela simplesmente não ascendeu mais. E minha câmera, uma novíssima Sony W 350, não tem buraquinho como as câmeras mais antigas, então, a situação que eu tinha era: Minha câmera está com bateria e bate foto- eu só não consigo ver o que estou fotografando.
Eu QUASE me emputeci. Pensei, então, que me emputecer não me levaria a parte alguma. Respirei fundo e pensei: “Estou com meu Ipod, vou tirar umas fotos com ele.” A qualidade não é a mesma, mas saíram. Quando der as coloco aqui.
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