Saímos de Ollantaytambo às 9 da noite de terça, num trem da Peru Rail (35 dólares) rumo a Águas Calientes, a vila mais próxima de Machu Picchu.
Descemos do trem às 11 da noite, bombardeados por locais que ofereciam hospedagem. Quando digo "bombardeados", é exatamente o que eu quero dizer. Os peruanos vêm pra cima de você gritando e te puxando pelo braço, oferecendo hospedagem. Se você já foi pra Porto Seguro provavelmente se lembra dos ambulantes que te vendem de tudo na praia, e dos folgados que pegam no teu braço pra fazer tatuagem de henna. Eleve isso ao cubo e terás uma idéia do que são os peruanos vendendo o que têm. Estávamos em 3 e não conseguíamos conversar pra chegar a um acordo, então nos deixamos levar por um deles, que nos ofereceu quarto com banheiro privado por 15 soles (R$ 8,78).
Logo quando entramos no quarto, Juan Carlos, cuja relação com o hostel não entendi, ofereceu seus serviços de guia para a manhã seguinte e nos deu dicas de como fazer para comprar a passagem de ônibus até lá e o ticket de entrada.
Levantamos às 4:30 da manhã para chegar ao guichê onde se compra a entrada de Machu Picchu, em Águas Calientes. Juan Carlos nos tinha avisado que na porta do santuário não se vende entrada (!), e que tínhamos que comprar lá.
Enquanto Vincent ficava na fila esperando abrir o guichê pra comprar a entrada (126 soles- R$73,82), eu e Alexis fomos comprar as passagens de ônibus (22 soles-R$ 12,89). Havíamos considerado subir caminhando (umas 2 horas de subida), mas resolvemos ir de ônibus e descer caminhando.
O ônibus nos deixou na entrada, e às 6 da manhã já havia uma fila enorme. Alguma demora par entrar por conta da quantidade de gente. Estávamos um pouco preocupados porque Juan Carlos havia dito que não era permitido levar comida nem bebida, o que foi reiterado pela placa na entrada. Como pensamos que íamos passar o dia todo lá, levamos alguma comida, masi de 4 litros de água e, claro, os franceses levaram uma garrafa e vinho. Felizmente ninguém nos revistou e pudemos entrar com tudo. Caso nos houvessem revistado, teríamos que deixar as coisas num guarda-volume fora.
Não tenho palavras pra descrever minha -ou melhor, nossa- emoção ao entrar. Como ainda era 6 da manhã, havia muita neblina, que dava um ar místico ás ruínas. Optamos por não irmos com guia, pois apesar de poder ser muito educativo, nem todos os guias conhecem bem o assunto tratado, e nenhum de nós três gostamos da idéia de ser guiados, ter o tempo controlado e etc.
Caminhamos pelas terraças de agricultura e logo encontramos Alycia, uma suiça que tanto eu quanto os meninos havíamso conhecido (em dias distintos) em Valparaíso (e eu, reencontrado em Santiago). Ela nos avisou que se quiséssemos subir a Wayna Picchu (montanha essa que se vê ao fundo das fotos clássicas de Machu Picchu), teríamos que ter um carimbo no nosso bilhete de entrada. Isso se deve ao fato de só ser permitida a entrada de 400 pessoas por dia, em 2 turnos de 200 (um às 7 e outro as 10 da manhã). Voltamos à entrada em vão, pois a pessoa encarregada de caribar já tinha ido pra entrada de Wayna Picchu, então nos dirigimos até lá.
Já passava das 7:30 da manhã e eu estava preocupada de já ter ultrapassado o limite permitido de pessoas. MInha preocupação, no entanto, não teve razão de ser. Eu fui a 39 pessoa a entrar. Não é necessário pagar nenhuma taxa adicional para subir, mas houve uma hesitação de minha parte porque havia uma placa que avisava que Wayna Picchu era adequada apenas às pessoas saudáveis e em boa forma física. Eu, sinceramente, me encontro em ótima saúde, mas tinha minhas dúvidas quanto à forma física. Mas resolvi arriscar.
Machu Picchu (lê-se Matchu Piktchu), significa Velha montanha, em Quechua. E Wayna, significa jovem.
Essa jovem montanha deu trabalho. A subida foi mais fácil que da montanha em Ollantaytambo, pois era toda marcada, com escadas de pedra, mas foi uma subida bastante cansativa. A paisagem, no entando, compensava tudo. À medida que ia subindo, o céu foi se abrindo, e eu vi todas as montanhas do Vale Sagrado, Machu Picchu toda e o azul perfeito do céu que ia se apresentando aos poucos. Foi ideal termos começado a subir às 7:30, pois depois o sol fica muito forte.
Quando chegamos ao pico de Wayna Picchu já havia várias pessoas nas pedras. Reencontramos Camille e Camille (as francesas de San Pedro), e celebramos com uma garrafa de bom vinho chileno nossa presença naquele lugar fantástico. A idéia do vinho não foi tão inédita (dois argentinos viajando de moto também haviam levado uma boa botellita de vino argentino), mas foi motivo de zombaria das pessoas que estavam ao nosso redor, que estranharam beber vinho antes das 9 da manhã. Eu só brindei, pois sabia que tinha uma descida e um dia de caminhada a minha frente.
Ficamos aproximadamente uma hora curtindo a vista, e as 9:30 iniciamos a descida de Wayna Picchu. Continuamos andando por Machu Picchu, que já estava com bastante turistas, ficamos de ouvidos atentos às informações dos trocentos guias que estavam por lá, mas, claro, não absorvemos muita coisa.
Depois de 6 horas subindo e descendo ruinas, saímos do santuário felizes da vida.
Há muitas coisas impressionantes em Machu Picchu. A localização é uma dela. A arquitetura, no entanto, é o que mais chama a atenção. Não posso imaginar como os incas levaram até aquela altura pedras tão grandes, que usaram pra contruir com precisão templos, cômodos para armazenar comida, fortalezas e postos de vigília. É realmente incrível.
Ficamos um tempo descansando do lado de fora, comemos pão com atum que tínhos levado e fomos ao banheiro, antes de começar a descida a pé até Aguas Calientes.
Os meninos foram correndo (não sei de onde tiram tanta energia), e eu, porque tenho um medo grande de cair e não via a necessidade de correr, fui caminhando pelos bosques, descendo a escadaria de pedra que me levou por um caminho de sombras até Águas Calientes.