Duda não é uma menina má.
Duda é dúvida em espanhol, e algo que na última semana tem habitado meu peito.
As pessoas com quem conversei desde o dia 17 devem ter notado minha incerteza e instabilidade - maior que a corriqueira.
Desde o nascimento do Renan eu fiquei um pouco abalada e em dúvida se queria ou não continuar viajando. O fato de ter perdido um momento muito importante da minha família foi algo que doeu um pouco em mim, mas, claro, já sabia que isso iria acontecer- só não sabia que iria me abalar tanto.
Depois de muito refletir e conversar com alguns amigos, decidi continuar viajando. O fato é que o Renan já nasceu e esse momento eu já perdi. Felizmente tenho o resto da vida dele pra conhecê-lo, e definitivamente não perderei o primeiro natal dele. Em dezembro pretendo estar em casa.
Ontem tomei minha decisão, que não foi fácil e implicou horas escrevendo meus sentimentos, meus planos e minhas limitações.
No fim do ano passado fiz um curso chamado Leader training, que é um curso de autoconhecimento e autodesenvolvimento. Nesse curso aprendi a traçar metas concretas e buscar recursos para colocá-las em ação. Bom...
a verdade é que apesar de eu ter aprendido isso, não estava colocando em prática. Como viajo sem roteiro, ficava um pouco complicado eu ter a meta de estar em tal lugar tal dia, e com o passar do tempo fui perdendo a convicção de onde queria chegar- tanto fisicamente quanto interiormente.
Como eu já esperava que esse momento pudesse ocorrer, trouxe comigo minha apostila do LT, e me pus a relê-la, o que me trouxe força e coragem para respirar fundo e assumir o meu quere- e eu quero, de fato, continuar viajando.
Nos momentos de dúvidas havia criado limitações ilusórias. A verdade é que eu não TENHO QUE voltar pro Brasil. Eu tenho a oportunidade (que não chamarei de sorte, porque foi uma oportunidade que eu mesma me dei) de estar onde estou, viajando, me enriquecendo culturalmente e conhecendo mais de mim. Não vou dizer que estou realizando o sonho da minha vida, pois viajar por um ano nunca foi um sonho, mas uma idéia recente, de um ano de idade, que fui amadurecendo até se tornar um plano concreto. Tendo essa oportunidade,
depois de meditar e refletir, me dei conta de que me arrependeria enormemente se voltasse sem um motivo real.
Nenhum dos argumentos que usei em minhas conversas internas para me convencer de que seria uma boa idéia era um argumento forte o suficiente. Saudades eu sinto, e continuarei sentindo, mas tenho que curti-la e superá-la.
A minha situação atual favorece esse tipo de experiência: Beiro os 25 anos, tenho ótima saúde, bom equilíbrio emocional (minha psicóloga uma vez me disse que não sabia por que eu estava fazendo terapia, pois eu me analiso e chego a conclusões sozinha), não tenho namorado (sem comentários), nem filhos, e meu emprego me permite trabalhar onde quer que seja- fora que para juntar uma grana eu faria outros tipos de trabalho. Assim, desperdiçar isso seria boludez. Por isso seguirei.
Eu havia dito pra minha mãe que voltaria no fim de junho- já tinha gente contando comigo pra festa junina. Enquanto eu tiver dinheiro continuarei viajando. Só que também não estou desesperada- estou hospedada num bom hostel (um pouco mais caro que os outros), como bem e não me dói se compro presentes às pessoas que amo- isso faz parte de mim. Dinheiro vem e vai, e para mim mais vale demonstrar meu carinho de longe e investir na demonstração do meu afeto do que fechar a mão só para eu viajar uns dias mais- por isso, vovó, trate de abrir espaço na sua parede pra pendurar um prato de Machu Picchu.